Armando Keniti Kusano, nissei da segunda geração dos imigrantes, é analista de sistemas do TJRO e tem no registro de sua família a história de um verdadeiro destemido pioneiro, que desbravou essas paragens em busca de melhores oportunidades. O sonho do pai, Inácio Hissashi Kusano, era conseguir ter um pedaço de terra. No Paraná, onde morava a família, era praticamente impossível realizar esse sonho devido ao alto valor.
Na década de 80, pai e avô trabalhavam com compra e venda de arroz em Maringá-PR. Para conseguir preços vantajosos, seu Inácio aventurava-se cada vez mais para o interior do Brasil. Em 1978, em Cuiabá-MT, ele ouviu falar de que em Rondônia tinha arroz barato. Com o seu fusquinha resolveu vir conhecer esta terra. Passou muita dificuldade, enfrentando estradas sem pavimentação e muita lama, mas conseguiu chegar em Vilhena-RO. Porém, o que ele não sabia, era que no trecho de Vilhena até Cacoal ele teria o veículo rebocado por um caminhão, com direito a perder o para-choque e para-lamas do seu fusquinha. Fez as compras de arroz e embarcou o produto para o Paraná.
Da esquerda pra direita: a mãe Eiko, a esposa Kharla, Armando e o pai nácio
Depois disso, jurou que nunca mais iria colocar os
pés por estas bandas. Dois anos depois, em 1980, estava de "mala e
cuia" na região do Município de Rolim de Moura-RO, onde estabeleceu
comércio e, depois de alguns anos, realizou o sonho de ter o "pedaço de
terra" na região de Nova Brasilândia D'Oeste-RO. Mas foi somente em 1987,
quando Armando tinha apenas 3 anos de idade, que sua mãe chegou a Rolim de
Moura. Ele nasceu em Maringá-PR e sua vida profissional no Judiciário, em Porto
Velho, começou em 2017, após a nomeação.
Linhagem
A família de Armando tem sua linhagem em diferentes cidades japonesas. Seus avós maternos vieram de Naha, capital de Okinawa. Seu avô paterno veio de Chiba (cidade próximo a Tóquio), já sua vó é brasileira, nascida em Lins – SP, mas seus pais são de Kumamoto.
O casal de avós maternos (Masafuji e Yoneko Shimabukuro) posando com familiares na festa de casamento
Os avós paternos estabeleceram-se
no interior do Estado de São Paulo; outra parte no interior do Paraná, em
Maringá.
A entrada no Judiciário
Antes de ingressar no Judiciário rondoniense,
Armando trabalhou por 13 anos em uma empresa da área de tecnologia e passou 5
anos lecionando em faculdades na região de Rolim de Moura, só depois disso
resolveu experimentar novos ares profissionais.
Ele comenta sobre o sentimento de fazer parte do Poder Judiciário de Rondônia. “Já havia sido nomeado outras vezes para o cargo de Analista de Sistemas (no setor bancário e Poder Executivo), mas não tive interesse em assumir.
Em 2018, com sua esposa Kharla, em viagem de lua de mel em Buenos Aires
Quando recebi a notícia da nomeação para o TJRO, em 2017,
fiquei muito feliz, senti que poderia ajudar na missão do Poder Judiciário em
promover o acesso à Justiça para a população rondoniense, principalmente por me
identificar muito com os valores propostos por este Poder”, revelou.
Formação familiar
Armando considera muito especial o papel exercido por seus familiares e antepassados. “Eu acredito muito na família e a importância dela em minha formação. Família nenhuma é perfeita, mas eu acredito que tudo que os meus fizeram era pensando em mim e em meus irmãos. Todo o esforço deles em nos garantir a melhor educação possível, tanto na escola quanto em casa, além do amor incondicional, eu levo de exemplo para mim”, disse.
Da esquerda para direita: Armando, a esposa, a irmã caçula Juliana Kusano, a mãe Eiko Shimabukuro e a imã Susileine Kusano.
Armando diz que começou a trabalhar muito cedo no
comércio do pai, e isso foi o que lhe garantiu o senso de responsabilidade,
principalmente com o dinheiro e trabalho.
Culturas
Sobre a convivência com a pluralidade de costumes e hábitos culturais, ele diz que se considera mais brasileiro do que muita gente. “Sempre brinco com minha esposa que ela é mais japonesa do que eu. Na verdade, é até um sentimento estranho: sou brasileiro por ter nascido e sido criado no Brasil, mas a origem da minha família me remete a alguns costumes orientais. Já no Japão, eu seria considerado um gaijin (estrangeiro) e provavelmente me encaixaria menos ainda com a cultura de lá. Apesar dessa bagunça cultural, sinto que sou muito mais brasileiro do que japonês. Só o olho puxado que entrega minha origem”, brincou.
O fenômeno da imigração japonesa
no Brasil, para Armando, tem entraves em algumas práticas culturais. “Apesar de
não ter influenciado tanto quanto as culturas europeias e africanas, a
comunidade japonesa no Brasil é a maior fora do Japão. Só isso já é suficiente
para influenciar muitos costumes, como os religiosos (minha mãe participa da
Seicho-No-Ie) e principalmente culinários (quem nunca ouviu falar do famoso
peixe-cru, o sashimi”, pontuou.
Ele acrescenta que “a grande
diferença cultural e linguística acabava isolando muitas comunidades japonesas.
Mas assim como a necessidade de comunicação para a realização de comércio,
forçava ambos os lados a tentar se entender. Até hoje, minha avó materna
trabalha no comércio em Maringá (no mesmo lugar, desde a década de 60) e ela
não é alfabetizada em língua portuguesa. Todas as anotações dela são em nihongo
(japonês) e ela identifica os produtos que ela vende pelas imagens dos rótulos
da marca. É um esforço conjunto de ambas as culturas para melhorar a comunidade
em geral”, concluiu.
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